Luciano Alberto |
Sou Luciano Alberto de
Souza Silva, 31 anos. Nos últimos 4 anos fui Conselheiro Tutelar de Guarujá.
Pude confirmar de perto, por estar à disposição das crianças e dos adolescentes
24 horas por dia, dos bairros mais abandonados desta cidade (Sítio do
Conceiçãozinha, Vicente de Carvalho, Favela do Caixão, Aldeia, Santa Cruz dos
Navegantes, Perequê etc) o desprezo que a Prefeitura Municipal de Guarujá trata
as crianças filhas de pobres.
E, por tabela, vi de perto, muito de perto, como a
administração municipal é indiferente ao futuro da Pérola do Atlântico, como
éramos conhecidos no mundo inteiro.
Senti na própria pele, como uma dor de dente que me cortava o
coração, o desespero de famílias inteiras, de pais e de mães. Muitas vezes o pânico
das mães solteiras, largadas pelos seus companheiros, tentando buscar não mais
o futuro para seus filhos e filhas. Mães que largavam seus filhos nos barracos
insalubres e saíam em busca desesperada não mais do futuro, mas o próximo prato
de comida; ou de um cobertor, ou de um medicamento, que aliviasse a dor, a
febre e que afastasse, nem que seja por uma noite, o medo da morte que rondava
seus lares.
Mães que nos procuravam em gritos de desespero porque não
conseguiram sensibilizar nenhum dos responsáveis pela administração pública de
Guarujá. E que percebem que perdem seus filhos e filhas para o crime
organizado, para os pedófilos de plantão, para todo o tipo de coisa ruim,
porque a Prefeitura de Guarujá adotou uma política pública de descaso com os
filhos e filhas das famílias desamparadas da cidade.
Durante 4 anos como Conselheiro Tutelar sofri junto com essas
crianças cheias de energia. Vi nelas flores maravilhosas prontas para confirmar
o destino maravilhoso deste pedaço de paraíso que um dia já foi chamada de a
Pérola do Atlântico.
Mas que hoje transforma suas crianças em pérolas que são jogadas
intencionalmente aos porcos do crime organizado, ávidos por transformar nossos
meninos e meninas em aviõezinhos, em gerentes do tráfico, em instrumentos do
mal.
Pude ver de perto mães e pais desesperados buscando atividades
para seus filhos e encontrando as portas dos CAECs (Centro Assistencial
Esportivo Comunitário) fechadas aos sábados, domingos e feriados. Fechadas
também nas férias escolares de julho e de dezembro.
Vi crianças de 8 e 10 anos sendo obrigadas por adultos ao
trabalho forçado nos faróis para vender trufas; ou a pedir esmolas enquanto
fingem que praticam malabares. A se transformarem num cartão postal degradante para
os turistas que nos visitam, nas principais entradas da cidade.
Essas atividades forçadas desenham o futuro de grande parte de
nossas crianças, a maioria filhas de pais e mães pobres. Sem que a administração
pública interfira. O que anima os grandes gestores do crime organizado a
recrutar essa mão de obra infantil e sem perspectiva de qualquer tipo de futuro
decente.
O resultado a gente vê nas estatísticas policiais. E só quem
conviveu de perto com as emoções dos pais e mães dessas crianças consegue
avaliar a dor de perder filho a filho, filha a filha para as atividades
ilegais.
Quando poderiam estar praticando esportes, aprendendo música e
artes em ambientes públicos, sustentados com verbas municipais, estaduais e
federais, se conseguirmos um prefeito que se decida, de fato, construir o
futuro que Guarujá merece.
Um prefeito que saiba que para termos um futuro que resgate a
Pérola do Atlântico que já fomos, que será necessário proteger além de nossas
belezas naturais, a vida e a alegria de nossas crianças, de todos os extratos
sociais. Ajudar seus pais a torná-las cidadãs do bem, artistas e trabalhadores
que resgatarão Guarujá para todos nós.